O que é um parto humanizado?

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Antes de qualquer coisa, vou pedir para que vocês assistam o documentário “O Renascimento do Parto”, onde especialistas brasileiros e estrangeiros falam sobre a forma como o parto é conduzido no Brasil e como deveria ser segundo a OMS.

O parto humanizado está “na moda”. Não gosto de usar este termo, pois não é moda, é resultado da busca das mulheres e seus companheiros por melhores informações e, consequentemente, melhores opções para as mães e seus bebês.
Um parto humanizado não significa ser um parto em casa ou um parto dentro da banheira como é pensado por muita gente. O parto humanizado é aquele realizado baseado em evidências científicas, onde a mulher é respeitada como ser humano que é.

É preciso fazer a diferenciação de um parto normal vaginal e um parto respeitoso. Hoje as taxas de cesarianas no Brasil são alarmantemente altas e, em sua maioria não são eletivas, ou seja, por decisão da mulher, elas acontecem por indução médica, infelizmente.
Quando a mulher decide fazer um parto normal ela também decidirá sobre outras coisas, como por exemplo, pela intervenção médica arbitrária ou não. A nossa cultura tende a entender o médico como “Deus”, mas infelizmente, quando se trata de parto, nem sempre a verdade é dita. Eu sou pró médicos, os amo de paixão, tenho irmão e cunhada médicos que me salvam nos desesperos de mãe, mas alguns médicos não são de confiar, principalmente os médicos obstetras cesaristas.

Esse assunto é muito delicado, mas chegou a hora de falar! Não podemos ficar inertes à vontade dos médicos, acreditando que estamos “salvando nossos filhos”, quando, na verdade, somente estamos sendo coniventes com a agenda do médico que não quer fazer parto normal, pois é mal remunerado pelo plano de saúde.

Voltando ao assunto, o parto normal vaginal tradicional no Brasil é realizado: i) com a mulher deitada na cama sempre. Desta forma o canal vaginal e a vagina estão de mais fácil acesso ao médico para que ele possa intervir em qualquer necessidade de “emergência”. Qual é o problema dessa posição? Esta posição além de extremamente desconfortável pra gestante durante as contrações é contra a própria lei da gravidade. A força a ser realizada terá de ser maior, além de que as contrações podem se tornar não eficientes o que pode acarretar numa cesariana por estagnação do trabalho de parto; ii) com episiotomia em quase 100% dos casos. A episio é o famoso “cortezinho” feito na vagina da mulher. Esta é uma intervenção médica que, segundo evidências científicas não apresenta benefícios à parturiente quando realizada de forma indiscriminada. A justificativa médica para a realização da episio é de que de, se não feita, a mulher poderá sofrer lacerações enormes no períneo e outras áreas da vagina, fazendo com que as infecções sejam mais recorrentes. É mentira. As evidencias científicas, ou seja, os estudos reais feitos em mulheres que pariram com e sem episio comprovaram que a episio AUMENTA o risco de infecção, AUMENTA o risco de laceração grave (ela mesma já é uma laceração grave) e aumenta o risco da mulher ter laceração em outros partos vaginais.  Além do mais, é extremamente desconfortável para a gestante e pode trazer complicações no pós parto; iii) com uso de ocitocina sintética, o famoso sorinho. A ocitocina é produzida normalmente pelo corpo da mulher, mas ao adentrar no hospital em trabalho de parto, os médicos costumam dizer que vão dar uma ajudazinha pra mãe e colocar no sorinho para acelerar o trabalho de parto. A ocitocina sintética aumenta as contrações uterinas, fazendo com que as dores sejam maiores do que as dores naturais. Óbvio que há casos de indicação real do uso de ocitocina, mas o que se vê hoje é sorinho em todas as mulheres que chegam em trabalho de parto. A consequência do uso do soro? Bom, a mulher vai vivenciar uma dor mais forte do que a que naturalmente iria sentir. Com isso, as chances dela pedir anestesia são maiores e, em um parto com anestesia, maior a probabilidade do parto ser deitada, de se fazer necessária a episio e, em casos mais graves, o parto poderá acabar em uma cesariana. Há consequências maiores e mais profundas relacionadas ao vínculo mãe e filho, já que a ocitocina é o hormônio do amor. Mas esse papo eu deixo pro filme O Renascimento do Parto explicar melhor.

Se o parto normal é realizado desta forma no Brasil, quem foi que disse que tem que ser diferente? A NATUREZA! A OMS! AS MÃES!

Em um parto Humanizado tudo isso pode ser que aconteça, mas só vai acontecer se mãe quiser.

Como funciona o parto humanizado?
Ao final do post, colocarei algumas frases que ouvi e as respostas sobre o assunto. Por enquanto, vamos as explicações práticas.

No parto humanizado, como eu disse acima, a mulher é respeitada como ser humano que é. No parto humanizado, a mulher tem o direito de escolher. Não existe essa de “deita na cama!”, ou ainda “para de gritar para não assustar as outras grávidas” … é um ambiente livre de violência obstétrica de qualquer monta. A mulher é respeitada! Se ela quiser ficar em pé, ela ficará em pé, se quiser deitar, deitará, se quiser entrar na banheira, idem… aí você me pergunta: e se a posição que ela escolher estiver atrapalhando o parto? Com toda educação do mundo que um médico ou equipe humanizada possui, será informada a gestante de que aquela posição não está favorecendo o bom desenvolvimento do parto e será sugerida a troca de posição. Simples assim, né? Como todo ser humano deveria ser: educado! E não cheio de “minha filha, você tá querendo que esse menino nasça ou não? Desse jeito não dá!”.
Além da educação e respeito à mulher que poderá optar por diferentes condutas, inclusive as médicas (não ter episio, não ter ocitocina, etc), há também um manejo no parto baseando-se em evidências científicas. Explico com um exemplo prático. Os médicos que apoiam o parto normal, mas não são humanizados, se baseiam em estudos antigos para conduzir o trabalho de parto. A escola antiga dizia que a mulher deve dilatar 1cm a cada hora de trabalho de parto, mas essa progressão já foi derrubada há algum tempo. O trabalho de parto é imprevisível e requer mais do que 1cm/h para chegar a conclusão de que não está progredindo. Se a mãe deu entrada no hospital as 9 da manhã com 3cm de dilatação e as 13 ela permanecer com 3 cm de dilatação, o médico não humanizado vai indicar a cesariana alegando que a mãe não teve passagem. O médico humanizado vai sugerir mudança de posição, banhos relaxantes, massagens … em último caso, com análise de outros fatores como bem estar fetal, ele poderá sugerir o uso de analgesia (não é anestesia como na cesariana – a mãe continuará andando) ou até mesmo de pouca dose de ocitocina. Ou seja, serão apresentadas opções à gestante que deseja o parto normal, antes que se encaminhe a uma cesariana. O médico humanizado somente indicará uma cesariana quando esta for necessária, ou seja. imprescindível para salvar mãe e/ou bebê.

Só assim por alto dá para ter uma noção da diferença. Parto humanizado não significa parto de mãe natureba, palhaçada, frescura.. não. Significa poder estar sendo amparada por profissionais que irão respeitar a mulher que está parindo e suas vontades e que irão agir de acordo com evidências científicas e não de acordo com a velha prática da medicina.

 

Vamos as perguntas:

1) Quem pode fazer um parto humanizado? 
Qualquer profissional capacitado pode. A dúvida pode estar na confusão entre parto domiciliar e parto humanizado. O parto humanizado pode acontecer em qualquer lugar! No hospital, em casa, em casas de parto… Quanto ao parto domiciliar, esse pode ser assistido por médicos ou por enfermeiras obstétricas. Não entrarei a fundo nesse assunto de parto domiciliar.

2) Só dá pra fazer parto humanizado pagando?
Não! Hoje o SUS conta com diversos estabelecimentos humanizados. Ou são casas de parto que abrigam apenas as gestantes de baixo risco onde o parto é conduzido por enfermeiras obstétricas ou são hospitais como o Maria Amélia no Rio de Janeiro e o Sofia Feldman em Minas Gerais. São centros de excelência na assistência à mulher durante o parto, equipados com suítes e todos os aparatos para que a mulher seja respeitada e possa parir com dignidade sem sofrer violência obstétrica.

3) No parto humanizado, o bebê também é tratado de forma diferente?
Sim! Assim como na mulher, somente será aplicado ao bebê condutas baseadas em evidências científicas. A mãe pode optar pelo clampeamento tardio do cordão umbilical, o bebê vai imediatamente para o colo da mãe, mama na primeira hora e jamais é afastado dela. Outros procedimentos invasivos como aspiração das vias aéreas somente são aplicados se necessários, diferentemente da realidade atual onde todos os bebês são aspirados.

4) Já que é mais simples, pq é tão difícil parir dentro do conceito humanizado?
Infelizmente estamos na fase de transição. Não é fácil quebrar paradigmas antigos. Não são todos os profissionais da área da saúde que querem se atualizar e estudar os novos dados relacionados ao parto. Os hospitais não tem interesse financeiro que a mulher tenha parto normal. O parto normal não gasta nada do hospital, só a hotelaria. Não tem aluguel do centro cirúrgico pra cobrar, material, pessoal… Da mesma forma, alguns médicos não querem (e eles tem esse direito) receber míseros 300,00 reais para acompanhar um trabalho de parto que pode durar 16/20 horas! E, por causa disso se esquivam de realizar o parto normal. Vale fazer a observação de que respeito o médico que informa a gestante desde o início de que não irá acompanhar o parto normal. É direito dele e é direito dela saber isso. Eu abomino os profissionais que levam a gestante no papo até as 37 semanas para somente então dizer que não faz parto normal ou então pior: começam a inventar motivos para fazer cesariana e assustar a mãe. Pra quem se interessar, segue link com os mais comuns casos de falsas indicações de cesariana, ou seja, falsos motivos alegados pelos médicos como sendo determinantes para fazer uma cesariana: Indicações reais e falsas de cesariana

5) É possível ter uma cesariana humanizada?
A maioria das pessoas que falam sobre humanização do parto dirá que não. Mas, eu não concordo. A cesariana agendada sem motivo por si só não é humana por não respeitar o tempo de nascimento do bebê, mas e a cesariana indicada intra parto? Não tem como essa ser humanizada? Tem sim! O centro cirúrgico pode estar em temperatura ambiente ao invés de gelado para que facilite a termorregulação do bebê. O obstetra pode operar em penumbra. É possível permitir música no centro cirúrgico e mais importante: o bebê deve ser tratado de forma humana. Nada de intervenções desnecessárias, a mãe pode e deve ser desamarrada para segurar o bebê, o cordão pode ser clampeado tardiamente, dá pra amamentar no centro cirúrgico. Ou seja, não é pq se está em uma cirurgia que não dá pra respeitar a mãe e o bebê. Então, pra mim, dá sim pra uma cesariana ser humanizada.

essa não é bem uma pergunta, mas é uma crítica que li e que precisa ser rebatida:
“o parto humanizado é fruto de propaganda e marketing. Isso é coisa de quem tem dinheiro. Só serve para dar dinheiro pra doula. Plano de saúde cobre doula? Claro que não!”.
Primeiro é preciso esclarecer o papel da doula. O que é uma doula? Doula são mulheres contratadas ou não pela gestante que servirão como apoio a mulher que está parindo. Ela fará massagens, segurará a mão… a Doula não faz parto, a doula não faz intervenção, a doula não é responsável por partos, a doula não afere pressão, não escuta batimento cardíaco… a doula é o apoio emocional da mulher. Esclarecido isso, como é que o plano de saúde vai cobrir doula?? A doula pode ser sua mãe! Sua irmã!
Bom, parto humanizado não é fruto de propaganda, é fruto de informação! Quem lê, quem se informa, acaba buscando o melhor pra si e para o filho! Ponto. E, se ela optar por uma cesariana eletiva, ela estará ciente do que está fazendo e não estará sendo enganada por nenhum profissional. Essa é a diferença! A mulher tem o direito de escolher a forma de ter seu filho e eu sou muito a favor disso, desde que ela faça as escolhas sabendo o que está realmente acontecendo.

 

É isso! Parto humanizado é humanizar o parto. É respeito, informação e direito a escolhas. Você tem o direito de saber e tem o direito de escolher. 

Eu tive um parto humanizado. Clique aqui e leia meu relato.