Analgesia

Analgesia X Parto Normal

Analgesia não é igual anestesia geral

Na cesariana, a mulher toma anestesia na coluna (raqui ou epidural) e fica sem sentir da cintura pra baixo. Ela não consegue se mover.
A analgesia é diferente. A analgesia também é na coluna, porém em doses pequenas, permitindo que a mulher ande e contribua para o parto. Consequentemente, a mulher ainda sentirá dores, mas completamente suportáveis. Mesmo.

Eu me considero uma pessoa que tem tolerância a dor. Uma tolerância alta inclusive, mas a dor do parto me derrubou. As dores começaram e eu me pendurava no meu marido, vocalizava (falava “ahhhhhh”) e estava tudo bem. A santa da médica me chamou para a banheira. Encheu, colocou cores, ligou a hidro… e, do nada eu surtei! Mas surtei mesmo! Essa foi a pior parte do parto, pra mim. Eu tentava me concentrar em algum ponto para ajudar na hora das contrações, mas eu me perdi por completo. Me desconcentrei. Apenas 2 horas se passaram desde o início das dores e eu já não me aguentava. No último toque eu estava com 4 cm, então pensei que no máximo estaria com 6 e eu já não aguentava mais. Todos diziam que o trabalho de parto rápido duraria 12 horas…faltavam 10!! E eu não iria aguentar.  Comecei, então, a pedir por analgesia. E o pior? Não deixei a médica me tocar para saber quanto de dilatação eu estava para saber se era apropriado ou não a analgesia (tanto pra menos quanto pra mais)… eu poderia estar com 10cm e não saber! Ou estar com 4 ainda…

Qual o problema da analgesia e pq eu não queria tomar? Eu disse ao meu marido, doula e a médica que não era pra ceder ao meu pedido de analgesia. Mas pq? A analgesia é uma intervenção médica, logo, ela poderia trazer consigo uma cascata de intervenções. Como assim? A analgesia poderia me relaxar demais e fazer com que as contrações ficassem espaçadas, precisando de ocitocina para retomar… a analgesia poderia alterar o batimento cardíaco do bebê… a dose aplicada poderia ser errada e eu não sentir as pernas e, consequentemente, não ajudar no parto, o que poderia aumentar a probabilidade da médica ter que me dizer quando fazer força aumentando junto o risco de episiotomia ou lacerações graves.

Enfim, comecei a pedir por analgesia e meu marido, obviamente, me negando fielmente. Minha doula não estava lá, mas por mensagem, falava com meu marido e minha médica de que eu não queria analgesia e que não era pra ceder. Ainda disse ao meu marido os estágios que eu atingiria (xingar, pedir analgesia, pedir cesárea..) e ela estava certa. Minha médica ainda disse (tadinha): “sua doula disse q não é pra dar”; e eu repliquei de forma muito educada (só que não) “que se dane a doula!”. Gente, juro, a dor, pra mim, era insuportável.

Eu não queria aquilo. Eu estava descontrolada. Eu precisava assumir meu parto, precisava de controle. Eu estava igual a um bicho encurralado no canto da sala, no canto da banheira. Estava estagnada. Eu queria participar! Queria rebolar, agachar, queria sentir prazer em parir e não encarar aquilo como um fardo.  Depois de proferir uma frase mágica pro meu marido, ele cedeu. A frase? “eu não preciso provar nada pra ninguém”

Bom, ótimo, consegui que eles cedessem… mas cadê a anestesista? Pra quem não sabe, o anestesista da equipe fica de prontidão, mas ele não fica no hospital. Se você usar os serviços dele, pagará. Se não, não. A anestesista da equipe estava perto. A uns 10 minutos de carro, massss o bairro era a Barra da Tijuca, as 19h ! Trânsito infernal. A anestesista ainda foi muito boa gente e mandou um print do waze que informava que ela demoraria 45 minutos pra chegar. Sem condições! Eu não queria mais me sentir daquele jeito por mais nem 5 minutos e foi quando pedi que chamasse a anestesista do plantão.

O hospital é cesarista. 90% de taxa de cesáreas. A anestesista do plantão tá acostumada a fazer cesariana e não parto normal, ou seja, era um risco dela errar a mão e eu não sentir nada. Dei sorte! Muita sorte! A médica além de competente, era extremamente carinhosa e me tratou muito bem.

Lado ruim? A entrada da equipe de anestesia é um corta tesão total! O ambiente que estava escuro e silencioso muda para um claro e barulhento. Lembro da porta abrindo a toda hora, a luz forte no rosto (optei por fechar os olhos), muito barulho de instrumentos, mais gente entrando no quarto e eu tendo contrações, gritando…

Lado bom? Depois que a analgesia é aplicada, pronto. Passou. Eu consegui respirar. Deixei a médica me tocar e descobrimos que estava com 8 cm de dilatação (tá explicada a dor e descontrole). Eu pude colaborar com o parto, ir pra bola, sentir os puxos involuntários e fazer força quando meu corpo quis.

Ah! Tem partolândia pra quem está com analgesia sim!!! No expulsivo era eu e eu!! No máximo eu gesticulei pra responder a uma pergunta da médica e olhe lá!